sexta-feira, 14 de dezembro de 2007

Um Jornalista, um Policial e um Inferninho

Queima-de-arquivo
por Rodrigo Novaes de Almeida

Foi no aniversário de um deles que os dois personagens desta história se conheceram. Tinham, ambos, por volta dos trinta e cinco anos. Um jornalista, outro policial. Tornaram-se amigos. O jornalista, e aniversariante, precisava de alguém na polícia para resolver uma questão delicada que poderia, se saísse do seu controle, vir a causar muito barulho nos jornais. Não era oportuno sensacionalismo, e ele sabia disso. O policial entendeu o recado e percebeu que aquela nova amizade poderia render bons frutos adiante. O leitor precisa ser informado, antes de prosseguirmos, de que a tal questão delicada não será esclarecida no decorrer desta história. Não era nossa intenção colocar doce na boca de criança só para tirá-lo depois. Nem daríamos o doce, mas precisávamos de um elemento que servisse – como argamassa – para justificar a rápida aproximação dos nossos protagonistas. Em verdade, a questão não esclarecida não importará para além disso aqui. Amigos, portanto, o jornalista e o policial. A festa era em um daqueles bares que também são palcos de bandas com espaço para dançar. Muita bebida, mulheres, papo. Tudo bem comportado. Comportado demais, pelo menos para o policial. Decidiu que deveriam sair dali para algo melhor. Insistiu com o aniversariante. Cooptou mais dois entusiastas. Estes foram de moto. Para o jornalista e o amigo, tratamento especial. Um carro de patrulha da polícia é chamado para levá-los até um dos mais caros inferninhos da cidade. Desceram do carro na porta do estabelecimento. Todos os olhos voltados para eles. Portas abertas. Mesa sem reservas. Bebida por conta. E, claro, bailarinas nuas a disposição. Um dos entusiastas logo arrumou uma loira para colocar no colo. É sempre o clichê da loira, há de pensar o leitor, mas fazer o que, foi escolha dele. Nada obstante, o jornalista, a esta altura mais exigente que de costume e beirando o excêntrico, revela querer uma mulher negra, porque – diz – nunca comi uma negra, e meu avô dizia que foi com uma a melhor trepada da sua vida, a boceta mais quente que ele fodeu. Outro clichê, de fato, mas lembre-se que os caras já estavam encharcados no álcool, sendo tratados como Donos do Inferno, na maior putaria. Suas escolhas não poderiam ser outra senão clichês. Inclusive o fecho desta nossa história. Se o leitor já imagina que a noite para os nossos heróis não acabará bem, acertou. Um pé-de-chinelo do tráfico de uma favela próxima identificou o policial e escolheu aquela hora para resolver uma questão antiga, uma outra questão não esclarecida e que não importa e que servirá aqui apenas como argamassa, agora para justificar o fim desta história. Sairá amanhã nos jornais: quatro mortos em famosa casa de prostituição da cidade. Um jornalista e três policiais. Suspeita-se envolvimento das vítimas com o crime organizado.


Rodrigo Novaes de Almeida (Rio de Janeiro-RJ, 1976). Além de escritor e poeta, é artista plástico. Autor do livro-blogue Vórtice Famigerado (http://vorticefamigerado.blogspot.com). E-mail: digonovaes@yahoo.com.br

Fonte: Cronópios

Um comentário:

Anônimo disse...

passando para te ler e para te desejar um bom fim de semana . nos meu links ta la marcado o meuhi5 se kiseres passa por cá e dá um olhada
meu amigo! muito obrigado por esta linda dedicatoria :) a vida é realmente um jogo onde todos jogam,mas só alguns serão os vencedores e tu já és um com toda a certeza
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Vim deixar esta estrela, porque também sou tua fã... e te desejar um bom fim de semana
bjo
carla granja
http://paixoeseencantos.blogs.sapo.pt