segunda-feira, 23 de abril de 2007

Proibido Proibir - Longa de Jorge Duran

Sonhos na cidade partida
por Ana Paula Sousa

Olhar sensível. Duran filma a juventude no Rio (Reprodução)

Há um cheiro de Jules e Jim em algumas cenas de Proibido Proibir, em cartaz a partir da sexta-feira 27. O triângulo amoroso, os passeios ao léu e os sonhos acalentados numa cidade sitiada pela violência compõem uma atmosfera de liberdade juvenil que remete ao clássico de François Truffaut. Mas o diretor Jorge Duran, chileno radicado no Brasil, discorda da comparação. Compreensível. Para além da amizade flechada pelo amor, Proibido Proibir debruça-se sobre algo tipicamente brasileiro: a violência, a fissura social que aparta os jovens universitários cariocas de seus pares nos morros.

Roteirista de filmes como Pixote e Lucio Flávio, Duran sabe olhar a juventude. O recorte que oferece do universo habitualmente tratado pelo cinema nacional a partir da periferia (Antonia, Os 12 Trabalhos) é rico e original. Os personagens gostam de livros, cerveja e cultivam sonhos não necessariamente egoístas.

Paulo (Caio Blat) estuda Medicina, Letícia (Maria Flor) Arquitetura e Leon (Alexandre Rodrigues), o mais pobre dos três, Ciências Sociais. “Não acho que todos os jovens brasileiros vivem num profundo mal-estar ou não ligam para o que acontece no mundo. Mesmo no triângulo amoroso o que me interessava era saber o que eles fariam com aquele sentimento. E existe uma ética entre eles”, define Duran.

Do cotidiano universitário o filme abre-se para a realidade que eles encontram ao fazer trabalhos de campo. Em contato com o mundo apartado do campus, eles são obrigados a repensar os sonhos, o futuro. O filme pode não ser impecável – há escorregões na montagem, por exemplo –, mas transpira verdade. A própria beleza sobrevivente do Rio é lembrada no Palácio Capanema, na água do mar. Duran não se ilude e, até por isso, deixa o final da história em aberto. Mas também não fecha os olhos para a humanidade e a juventude que, mesmo em tempos difíceis, resiste.

Fonte: CartaCapital


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