segunda-feira, 9 de abril de 2007

Ouça Música de Torquato Neto e Jards Macalé

Algumas semanas atrás, mais precisamente no dia 21 de março do presente ano, coloquei aqui no Música&Poesia BRasileira uma postagem com o título Esses Anjos Malucos, trazendo uma série de poemas sobre, quem sabe, o mesmo anjo, porém, descrito nos mais diversos pontos de vista. Para Drummond o dito ser celestial seria um anjo torto, já Adélia Prado retruca com seu anjo esbelto, Chico o acusa de anjo safado, e na versão de Torquato Neto e Jards Macalé trata-se de um anjo louco muito louco.

Coincidentemente, no dia 30 de março, Paulo Roberto Pires, em sua coluna Tocatudo do site no mínimo, escolhe como música da semana ‘Let’s play that’, de Torquato e Macalé, que fala sobre seu anjo muito louco. Leia abaixo a reprodução do texto de Pires e ouça por completo a música Let’s play that gravada 35 anos atrás.

por Yerko Herrera.


Música da semana: ‘Let’s play that’

O ano era 1972. Jards Anet da Silva batizou com seu nome artístico, “Jards Macalé”, seu disco de estréia em carreira solo. Era ele no violão, o guitar hero Lanny Gordin no baixo e Tutty Moreno na batera. Dez faixas e, dentre elas, uma obra-prima, este Let’s play that.

Seu parceiro, Torquato Neto, também escolheu aquele ano para sair de cena, em novembro, no dia seguinte de completar 28 anos. Em tudo e por tudo, este disco e esta música são uma memória incandescente desta parceria, destes dois artistas notáveis e da prolongada ressaca, único desdobramento democrático da ditadura, acometendo caretas, engajados e desbundados como esta dupla de letrista e compositor.

O clima sufocante do disco, que tem pérolas como “Mal secreto”, “Movimento dos barcos” e “Hotel das estrelas”, encontra uma espécie resumo nesta canção, que recria o “Poema de sete faces” de Drummond com seu anjo torto (aqui “muito louco”) e cita Sousâdrade (”desafinar o coro dos contentes”) para manter acesa a rebeldia e a viagem num momento em que nem uma nem outra eram exatamente bem vistas.

Mas o grande barato de “Let’s play that” era a combinação de um poeta inspirado com um músico tão inspirado quanto pirado, de técnica espantosa no violão e, até hoje, dono de uma das interpretações mais viscerais que conheço. Macalé não é brincadeira não.

Passados 35 anos desta gravação, ninguém ousou reafazê-la - pelo menos que eu saiba. E fica mesmo difícil, pois cmo eu mesmo escrevi aqui, o macalismo é um culto paradoxal, que não é herdeiro de ninguém nem deixa sucessores. Let’s play that.

Let’s play that (1972)

Quando eu nasci
Um anjo louco muito louco
Veio ler a minha mão

Não era um anjo barroco
Era um anjo muito louco, torto
Com asas de avião

Eis que esse anjo me disse
Apertando a minha mão
Com um sorriso entre dentes

Vai bicho desafinar
O coro dos contentes
Vai bicho desafinar
O coro dos contentes
Let’s play that



Texto Música da semana: ‘Let’s play that’ , por Paulo Roberto Pires para o site no mínimo

Ouça aqui Let’s play that de Torquato Neto e Jards Macalé

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