quarta-feira, 11 de abril de 2007

Livro Noite na Taverna de Álvares de Azevedo Completo pra Download

Noite na Taverna

De publicação póstuma, esse livro é uma série de narrativas fantásticas, contadas por um grupo de amigos à roda de uma mesa de taverna. Mais do que pelos elementos romanescos e satânicos que a condimentam (violentação, corrupção, incesto, adultério, necrofilia, traição, antropofagia, assassinatos por vingança ou amor), a obra impõe-se pela estrutura: um narrador em terceira pessoa introduz o cenário, as personagens, a situação, e praticamente desaparece, dando lugar a outros narradores - as próprias personagens, que em primeira pessoa contam, uma a uma, episódios de suas vidas aventureiras.

Na última narrativa, a presença física (na roda dos moços) de personagens mencionadas em uma narrativa anterior faz com que todo o ambiente fantástico e irreal dos contos se legitime como verídico.

Noite na Taverna, escrita em tom bastante emotivo, antecipa em vários aspectos a narração da prosa moderna: a liberdade cênica, a dupla narração e suas confluências, a mistura do real ao fantástico conferem atualidade à obra, apesar de toda a atmosfera byroniana.

Fonte:
VirtualBooks

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TRECHO


Ele saiu, ela começou a despir-se. Eu vi uma por uma caírem as roupas brilhantes, as
flores e as jóias— desatarem-se-lhe as trancas luzidias e negras—e depois
aparecia no véu branco do roupão transparente como as estátuas de ninfas
meio-nuas, com as formas desenhadas pela túnica repassada da água do banho.

O que vi—foi o que sonhara e muito, o que vos todos, pobres insanos,
idealizastes um dia como a visão dos amores sobre o corpo da vendida! Eram os
seios alvos e velados de azul, trêmulos de desejo, a cabeça perdida entre a
chuva de cabelos negros—os lábios arquejantes —o corpo todo palpitante—era a
languidez do desalinho, quando o corpo da beleza mais se enche de beleza, e como
uma rosa que abre molhada de sereno, mais se expande, mais patenteia suas cores.

O narcótico era fortíssimo: uma sofreguidão febril lhe abria os beiços:
extenuada e lânguida, caída no leito, com as pálpebras pálidas, os braços soltos
e sem forca— parecia beijar uma sombra.

…………………………………………………………………………………………………………

Ergui-a do leito, carreguei-a com suas roupas diáfanas, suas formas cetinosas, os cabelos soltos
úmidos ainda de perfume, seus seios ainda quentes…

Corri com ela pelos corredores desertos, passei pelo pátio—a ultima porta estava cerrada: abri-a.
Na rua estava um carro de viagem: os cavalos nitriam e escumavam de
impaciência. Entrei com ela dentro do carro. Partimos.
Era tempo. Uma hora depois amanhecia.


(...)




Fonte: DomínioPúblico

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